Nem todo estresse é ruim: entenda a diferença entre estresse, burnout e transtorno de adaptação.
O estresse faz parte da vida. Ele pode até ser positivo em alguns momentos, nos preparando para mudanças, provas, entrevistas ou desafios. Mas quando passa do limite e começa a trazer sofrimento emocional e atrapalhar a rotina, ele pode se transformar em algo mais sério: o transtorno de adaptação.
Aqui, você vai entender o que é esse transtorno, como ele se manifesta, quais são os fatores de risco e quais os caminhos para o tratamento.
O que é o transtorno de adaptação?
O transtorno de adaptação acontece quando uma situação estressora desencadeia uma resposta emocional ou comportamental mais intensa do que o esperado.
Ele pode surgir a partir de diferentes situações:
Um evento único, como o fim de um relacionamento ou a perda de um emprego.
Múltiplos eventos, como uma sequência de perdas ou doenças na família.
Estressores contínuos, como crises financeiras frequentes ou conviver com uma doença crônica.
É importante lembrar que a intensidade da reação não depende apenas da gravidade do evento, mas também de fatores individuais (como personalidade, resiliência), culturais e do momento de vida de cada pessoa.
Quem pode desenvolver?
O transtorno de adaptação pode surgir em qualquer idade, mas é mais comum na adolescência.
Afeta de 2 a 8% da população, com maior prevalência em mulheres.
Em adolescentes, os gatilhos mais frequentes são rejeição, problemas escolares, separação dos pais ou uso de substâncias.
Em adultos, os principais fatores estão ligados a conflitos conjugais, dificuldades financeiras e mudanças de vida.
O que influencia nossa reação ao estresse?
Duas pessoas podem viver a mesma situação e reagirem de formas completamente diferentes. Isso acontece porque cada um carrega sua própria história e recursos emocionais.
Alguns fatores que moldam nossa reação:
Significados conscientes: como interpretamos o evento (ex.: ver a perda do emprego como fracasso pessoal ou como oportunidade de mudança).
Memórias inconscientes: traumas ou decepções do passado que podem ser reativados.
Vulnerabilidade prévia: perdas parentais na infância, transtornos de personalidade ou baixa resiliência.
Mecanismos de defesa: algumas pessoas têm recursos mais maduros para lidar com frustrações, outras sentem mais dificuldade.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do transtorno de adaptação é clínico e leva em conta critérios específicos:
Os sintomas aparecem até 3 meses após o evento estressor.
Há sofrimento intenso desproporcional à gravidade do estressor ou prejuízo no funcionamento social, acadêmico ou profissional.
Os sintomas não ultrapassam 6 meses após o fim do estressor.
Não se trata de outro transtorno mental ou de um processo de luto normal.
Tratamento: como cuidar
A boa notícia é que o transtorno de adaptação tem tratamento e costuma ter boa evolução.
Psicoterapia é o principal caminho, especialmente terapias breves focadas no trauma, como a Terapia Cognitivo-Comportamental. Protocolos curtos, de 5 a 6 sessões no primeiro mês após o trauma, podem ser muito eficazes.
Medicação pode ser indicada em alguns casos, sempre de forma individualizada e com acompanhamento médico.
Além disso, fortalecer hábitos de autocuidado, como atividade física, sono regulado e estratégias de relaxamento, também é essencial.
Transtorno de adaptação x Burnout: qual a diferença?
Apesar de parecerem semelhantes, são condições diferentes.
Transtorno de adaptação: pode estar relacionado a qualquer situação da vida.
Burnout: é exclusivo do ambiente de trabalho, reconhecido pela CID-11 como um fenômeno ocupacional, e precisa ser avaliado por um médico do trabalho para confirmar a relação com a atividade profissional.
Ou seja: estudar para o vestibular ou enfrentar dificuldades familiares não caracteriza burnout. Nesses casos, se houver sintomas, falamos em transtorno de adaptação.
Em resumo
Nem todo estresse é ruim. Ele pode ser um motor para mudanças, crescimento e conquistas. Mas quando se torna excessivo e começa a limitar a vida, é um sinal de que o corpo e a mente estão pedindo cuidado.
O transtorno de adaptação não significa fraqueza, significa apenas que você chegou ao limite do que poderia carregar sozinho. E reconhecer isso já é um passo importante no caminho da recuperação.
Se você está passando por uma fase difícil e sente que não consegue lidar sozinho, procure ajuda médica ou psicológica. Você não precisa enfrentar isso sem apoio.